A Febre dos Bebês Reborn: O Que Está Por Trás Dessa Nova Forma de Afeto?
- Jussara Fadin
- 16 de mai.
- 2 min de leitura
Por Jussara Fadin – Psicóloga
Você já se deparou com um vídeo nas redes sociais de alguém cuidando de um bebê com tanto zelo que parecia real... mas era, na verdade, uma boneca? Essa é a febre dos bebês reborn, um fenômeno que vem crescendo e despertando tanto curiosidade quanto preocupação – e que nos convida a refletir sobre o emocional humano e o poder das conexões simbólicas.
O que são os bebês reborn?
Bebês reborn são bonecos hiper-realistas criados artesanalmente para parecerem recém-nascidos. São feitos com impressionante riqueza de detalhes: veias, textura de pele, peso semelhante ao de um bebê de verdade, cheirinho de talco... tudo para que a experiência seja o mais real possível.
O termo "reborn" significa “renascido”, e essas bonecas são muitas vezes tratadas como filhos por seus donos, com direito a roupas, carrinhos, consultas médicas simbólicas, mamadeiras e até certidões de nascimento fictícias.
Por que isso virou uma febre?
O que antes era um nicho artístico, hoje tomou conta das redes sociais. Plataformas como TikTok e Instagram estão repletas de vídeos de adultos — principalmente mulheres — demonstrando rotinas maternas com seus bebês reborn. E não estamos falando de crianças brincando, mas de adultos cuidando dessas bonecas como se fossem filhos.
Para muitos, esse comportamento parece estranho à primeira vista. Mas quando olhamos com mais empatia, percebemos que esse fenômeno vai muito além de uma “brincadeira de boneca”.
O aspecto emocional por trás do reborn
Como psicóloga, vejo que esse fenômeno revela necessidades emocionais profundas. Cuidar de um bebê reborn pode ser uma forma de preencher vazios, ressignificar traumas, viver um luto, ou simplesmente exercer o afeto de forma simbólica.
É comum que mulheres que passaram por perdas gestacionais, dificuldades para engravidar, ou mesmo aquelas que sofrem de solidão, encontrem nos reborns uma maneira segura e socialmente aceitável de expressar cuidado, vínculo e amor.
Além disso, para algumas pessoas neurodivergentes, como indivíduos com autismo, o reborn pode ajudar a desenvolver empatia, rotina e habilidades emocionais.
Onde mora o limite?
Claro, como qualquer prática emocional, o uso dos bebês reborn deve ser observado com sensibilidade. Quando o cuidado com a boneca começa a substituir totalmente relações humanas ou impacta negativamente a vida social e funcional da pessoa, é importante procurar apoio psicológico.
Não se trata de julgar, mas de entender: o que esse vínculo está representando? Está sendo saudável ou está encobrindo algo que precisa de atenção e cuidado terapêutico?
Uma nova forma de vínculo
A febre dos bebês reborn nos mostra que o ser humano está sempre buscando formas de se conectar, de amar e de ser amado. Nem sempre isso será da maneira que esperamos. Às vezes, esse vínculo vem na forma de uma boneca, e tudo bem – desde que isso seja consciente, respeitado e, quando necessário, acolhido com escuta profissional.
Se você conhece alguém que se envolveu com os reborns, evite julgamentos. Em vez disso, ofereça diálogo, curiosidade genuína e, se for o caso, oriente sobre a importância de um acompanhamento psicológico para compreender o que há por trás desse gesto tão simbólico e, ao mesmo tempo, tão humano.
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